2018-03-25

O vento da mudança

A música dos Scorpions retrata sonhos e desejos diante da mudança na Rússia.

Eu não iria tão longe. Pretendo me ater à circunvizinhança que meus olhos ousam alcançar, diariamente. Longe das constatações russas, talvez. E poderia acrescentar "talvez" à qualquer coisa aqui. Se o interesse é a dubiedade... acabaria por conseguir.

Cansado de divagar, afirmo: para mim foi chegada a hora em que uma definição deveria ser tomada. Com tantas coisas acontecendo neste Brasil, terra de extremos e paradoxos, às vezes terra de todos, por outras, terra de ninguém, decidi mudar de cidade e de estado. Percebi que estava me afundando no meu tão prezado conceito de segurança, de proteção familiar, de sono tranquilo. O mundo não é apenas isso e eu estava preparando meus filhos para uma utopia em ruínas. Monte Dourado deixou de ser um sonho e agora é uma sobrevivente e como sobreviventes também devemos agir. Sair para novos ares, novo lugar com esperanças recalibradas, novas pessoas, sonhos e histórias a se conhecer, outra natureza exuberante.

Falo agora de minha nova casa, em Petrolina, Pernambuco. E, ao final desta semana, uma outra nova casa aqui terei. Acho que estou um pouco mais exigente e isto me faz bem. Uma cidade ainda vestida do frescor de sua adolescência preparando-se, inexoravelmente, para sua maturidade nos próximos anos. Sem pressa, com todos os problemas de sua autoconstrução, fundamenta-se no saboroso agronegócio de frutas crescidas como o inesperado sabor de sertão e as bênçãos do Rio São Francisco.

Meus filhos adoraram o lugar. Estão tão empolgados com os arredores quanto com suas próprias escolas. Escolas Públicas Municipais. Aqui estão fazendo o dever de casa. Ainda não sei o teor de espontaneidade ou de empurrão nas costas desta ação governamental mas, tem agradado os meninos então, deve ser razoável.

O clima nos surpreendeu. Viemos preparados para uma secura tipo Brasília. Coincidiu nossa chegada e estadia nos primeiros 60 dias com um clima não visto desde de 2004, segundo referências locais. Chuva diária, dias nublados, trovoadas. Os Petrolinenses surpresos. Nós, nem tanto. Vivíamos isso todos os dias. 

Bem, a secura vai chegar. Vamos nos preparar. Espero que a chuva não tenha apenas regado as plantas e lavado as calçadas. Espero que tenha, assim como nós já naturalmente desejamos, regado os corações locais com esperança e confiança.

O vento da mudança não apenas nos trouxe mas, acrescentou esta chuva inexplicável * em nossa bagagem.

* Inexplicável para nós, meros humanos. Os meteorologistas sabem explicar estas alterações com maestria.